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Retrospectiva 2025 – Música brasileira perde artistas singulares, insubstituíveis

Galeria com alguns artistas da música brasileira que faleceram ao longo de 2025 Divulgação / Montagem g1 ♫ RETROSPECTIVA 2025 ♬ A morte da flautista Odet...

Retrospectiva 2025 – Música brasileira perde artistas singulares, insubstituíveis
Retrospectiva 2025 – Música brasileira perde artistas singulares, insubstituíveis (Foto: Reprodução)

Galeria com alguns artistas da música brasileira que faleceram ao longo de 2025 Divulgação / Montagem g1 ♫ RETROSPECTIVA 2025 ♬ A morte da flautista Odette Ernest Dias (1929 – 2025) na véspera do Natal, 24 de dezembro, engrossou a lista de perdas irreparáveis sofridas pela música brasileira ao longo do ano. No Brasil desde os 23 anos, a instrumentista francesa integrou a Orquestra Sinfônica Brasileira e foi uma das fundadoras do Clube do Choro de Brasília. A morte da flautista, aos 96 anos, foi mais uma nota desafinada na pauta de 2025. A rigor, todo ano há grandes perdas na música brasileira. A morte é lei natural da vida. Contudo, em 2025, partiram artistas singulares, cujas mortes desmentem a máxima de que ninguém é insubstituível. Como encontrar outra cantora da dimensão de Nana Caymmi (1941 – 2025), intérprete que saiu de cena em 1º de maio, aos 84 anos? Nana foi cantora cuja voz encharcada de sentimento, vinda das profundezas da alma. Nana foi tão grande que fez o próprio nome sem se escorar no pai gigante, um certo Dorival Caymmi (1914 – 2008). Todo o sentimento, sobretudo as tristezas que o amor lhe deu, também pulsou na voz rouca de Angela Ro Ro (1949 – 2025), calada em 8 de setembro. A cantora, compositora e pianista morreu aos 75 anos, deixando canções ardentes, geradas na fogueira das paixões. Sim, Ro Ro é insubstituível. Como substituir Lô Borges (1952 – 2025), criador de melodias e harmonias requintadas que alicerçaram o cancioneiro do Clube da Esquina na década de 1970? Lô partiu aos 73 anos, em 2 de novembro, com a chama da criação ainda viva, a ponto de ter deixado praticamente pronto um álbum com canções inéditas letradas pelo irmão Marcio Borges, poeta fundamental da turma das Geraes. Não, não haverá um outro Lô Borges. Assim como existiu somente um Jards Macalé (1943 – 2025), anjo torto da MPB que bateu asas em 17 de novembro, aos 82 anos, deixando obra construída às margens do mainstream, na penumbra reservada aos marginalizados, aos amaldiçoados pelo sistema, aos gênios transgressores. No samba, o também insubstituível Arlindo Cruz (1958 – 2025) – que já estava fora de cena desde março de 2017, por conta de sequelas de AVC hemorrágico – entristeceu as rodas em 8 de agosto, dia em que morreu aos 66 anos. Arlindo Cruz foi bamba que tomou partido do samba da melhor qualidade, produzido nos quintais mais nobres do Rio de Janeiro (RJ), nos quais brotou a maestria de Bira Presidente (1937 – 2025) no toque do pandeiro. Um dos fundadores do grupo Fundo de Quintal, Bira morreu em 14 de junho, aos 88 anos. Pescadora de pérolas do samba da antiga, a cantora Cristina Buarque (1950 – 2025) também deixou legado inestimável ao partir em 20 de abril, aos 74 anos, deixando discos referenciais para um público específico que nunca a viu como “a irmã de Chico Buarque”, mas como a guardiã de tesouro com joias raras do samba. Não, jamais haverá outra Cristina Buarque. Não, jamais haverá outro guitarrista como Hélio Delmiro (1947 – 2025), músico extraordinário, falecido em 16 de junho aos 78 anos. Assim como jamais o mundo conhecerá um músico com a intuição assombrosa, a técnica efervescente e a permanente ebulição criativa de Hermeto Pascoal (1936 – 2025), instrumentista que transcendeu conceitos, gêneros e rótulos ao longo da vida dedicada ao exercício permanente de fazer música e tirar sons de onde menos se espera. O Bruxo morreu em 13 de setembro aos 89 anos, estando eternizado na galeria dos insubstituíveis ao lado de Preta Gil (1974 – 2025), cantora que deixou rastro de alegria na música do Brasil, mas que fez o país chorar ao morrer aos 50 anos, em 20 de julho, em decorrência de complicações de câncer colorretal. A precoce saída de cena de Preta Gil evidenciou a força de artista única que, mais do que uma cantora, se tornou uma personalidade por hastear a bandeira da diversidade em um Brasil misógino. Preta Gil presente! Em 2025, a música do Brasil também perdeu o compositor Antonio Barros (autor de sucessos associados ao universo do forró como Homem com H), o cantor Edy Star, o violonista Félix Junior, a cantora Lilian Knapp, o cantor Lindomar Castilho, a cantora lírica Maria Lúcia Godoy, a cantora Maricenne Costa, o compositor Marquinho PQD, o compositor e produtor Mauro Motta, o letrista Mauro Santa Cecília, o pianista Miguel Proença, a DJ Peppa Oliveira, o guitarrista e produtor Perinho Albuquerque, o guitarrista Rogério Meanda, a cantora Sonia Delfino, o guitarrista Toninho Crespo, o cantor e compositor Vital Farias e o percussionista Zero Awá. Cada um, de um modo próprio, deixou uma marca na música do Brasil ao sair de cena ao longo do ano. No balanço de perdas e danos da música do brasileira em 2025, o saldo positivo é a eternidade das obras que sobreviverão aos artistas que partiram.

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